Este ano parece que vou passar o Natal
sozinha. Me separei, não tenho ninguém e meu único filho mora longe de
mim. Estou me sentindo muito triste. É horrível essa sensação.” A
mensagem foi publicada por Maria Ilza de Almeida, de 50 anos, em um site
de desabafos uma semana antes das comemorações de final de ano. Em vez
das conversas, dos abraços e dos brindes que aconteciam em muitas casas,
Ilza passou a data sozinha, sem ceia especial e assistindo à televisão.
“Abri e fechei a janela quando vi os fogos. Parece que você não quer
viver o que não pode participar, foi aí que chorei”, relembra.
Ilza não está só. Assim como ela, muitos
conhecem a solidão, que pode aumentar no final do ano. “É uma época
feliz, mas que também remete à tristeza para alguns que não estão
próximos de pessoas que gostariam de estar”, explica o psicólogo e
escritor Alexandre Bez.
Sem o filho por perto, que há 6 anos
vive nos Estados Unidos, Ilza diz que seu principal problema hoje é a
solidão. “Às vezes acontece alguma coisa boa e sinto muita vontade de
contar para alguém ou acontece algo de ruim e quero desabafar, mas nunca
tenho ninguém. Não tem como fugir da depressão”, diz. Ela perdeu os
pais e pouco vê sua irmã, que vive longe. O término de seu segundo
relacionamento foi traumático e Ilza pensou até em se matar. Há alguns
meses fazendo terapia, ela acredita que esta é apenas uma fase a ser
superada. “Voltei a trabalhar, a acreditar na vida. Hoje estou melhor e
penso que é uma questão de tempo para voltar a ver o meu filho e também
para encontrar alguém. Eu não quero morrer sozinha”, afirma.
O estudo britânico “A Sociedade da
Solidão?”, realizado por cientistas da Mental Health Foundation em 2010,
mostrou que quase a metade (48%) dos 2.256 entrevistados concorda que
as pessoas estão ficando, em geral, mais solitárias. Segundo dados da
pesquisa, um em cada dez britânicos disse sentir solidão frequentemente.
Entre os mais atingidos estão os idosos e pessoas de meia-idade –
período da vida em que os divórcios, a saída dos filhos de casa, a
aposentadoria e o luto se acumulam –, além dos desempregados e doentes.
Mas se engana quem pensa que os jovens estão livres da solidão: 36% das
pessoas entre 18 e 34 anos se preocupam por estar só.
Uma pesquisa do Observatório da Solidão,
de Portugal, mostrou que são os divorciados quem mais se sentem sós,
seguidos pelos casados e, por fim, pelos solteiros. Acompanhadas ou
sozinhas, as pessoas podem se sentir solitárias em qualquer lugar. “Você
pode estar numa festa e se sentir só. A solidão é um sentimento
interno”, afirma Bez. Ainda, segundo ele, o pior tipo de solidão é
aquela sentida a dois, quando o casal está junto não por afinidade e
amor, mas sim para aplacar o terrível medo de ficar só.
Vida Moderna
De acordo com a pesquisa britânica, o
estilo de vida moderno contribui para que as pessoas se sintam sós.
“Trabalhar por longos períodos, viver sozinho, perder o emprego ou não
ter dinheiro suficiente para sair e encontrar os amigos são situações
onde as pessoas podem se sentir isoladas”, explica Simon Smith, chefe de
política da Mental Health Foundation.
Na era da internet, muitos recorrem à
tecnologia para driblar o sentimento da solidão. “O telefone e a
internet me ajudam a preencher a vida”, assume Ilza. Assim como ela,
aproximadamente dois terços dos britânicos disseram que a tecnologia
ajuda as pessoas a manter contato com outras. Ainda assim, um em cada
cinco admitiu gastar muito tempo conversando virtualmente com amigos e
familiares, quando deveria encontrá-los pessoalmente. “Apesar das redes
sociais poderem ajudar a enfrentar a solidão, elas não devem substituir
as relações pessoais. A tecnologia não proporciona o contato humano, que
realmente beneficia nosso bem-estar emocional”, afirma Smith.
Mas não é só o emocional que sente os
prejuízos se estar só. “A solidão persistente está ligada ao estresse,
assim como à piora no funcionamento do sistema imunológico e
cardiovascular. A solidão modifica nosso comportamento e aumenta as
chances de adotarmos hábitos de risco. Adultos de meia-idade solitários
bebem mais álcool, têm dietas menos saudáveis e fazem menos exercícios
do que as pessoas que permanecem socialmente conectadas”, diz Smith.
Admitir a solidão, no entanto, não é uma
tarefa fácil. De acordo com a pesquisa, uma em cada três pessoas se
sente constrangida em tornar público o que sente. “Talvez a sociedade
veja a solidão como uma fraqueza ou como incapacidade de construir
relacionamentos”, explica Adriana.
Os especialistas garantem, contudo, que
passar algum tempo sozinho pode ser positivo. “De fato, é um contrapeso
necessário para a agitação da vida moderna”, afirma Smith. Permitir-se
ficar sozinho, para pensar e refletir é, segundo Bez, o que chamamos de
solitude, algo bem diferente de solidão. “Solidão é algo mais. É um
estado emocional negativo da mente, que pode levar à ansiedade e a
transtornos depressivos, que podem precisar de ajuda profissional”,
completa Smith.
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